E-book gratuito | Epistemologia e didática do currículo cultural da Educação Física
Decorrente das forças que produzem as contingências históricas, o currículo cultural, denominação batizada espontaneamente no encontro entre professores que discutiam o fazer pedagógico, tem suas condições de procedência e emergência, bem como bases epistemológicas e intencionalidades políticas e pedagógicas que lhes são caras. Sua procedência deve-se ao vínculo que a Educação Física estabeleceu com as Ciências Humanas, acontecimento gestado no âmbito do Movimento Renovador da área que marcou os anos 1980. Como se sabe, intensas mudanças sociais e políticas ocorreram à época em nosso país e no mundo. Essa articulação abriu o debate acerca da necessária superação do paradigma dominante da aptidão físico-esportiva e a consolidação de novas finalidades para a Educação Física. Disso decorreu tanto a divisão da formação profissional em cursos de Licenciatura e Bacharelado, como a multiplicação dos campos de atuação para além da escola.
A inserção da Educação Física na área das Linguagens remonta aos anos 1970 quando os Guias Curriculares a incluíram juntamente com Língua Portuguesa, Educação Artística e Língua Estrangeira Moderna, na “matéria” Comunicação e Expressão.
Na segunda metade da década de 1990, os Parâmetros Curriculares Nacionais reafirmaram a posição que a Educação Física que acontece nas escolas está na área de Códigos e Linguagens, o que foi legitimado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica homologadas em 2013 e, mais recentemente, pela Base Nacional Comum Curricular. Isso decorre da aproximação da Educação Física com as Ciências Humanas, principalmente da Psicologia do Desenvolvimento e, mais tarde, da Sociologia, Linguística, Filosofia e dos Estudos Culturais.
Desde então, observam-se algumas movimentações tímidas no campo acadêmico para responder a essa inserção, sem, no entanto, atentar aos cuidados epistemológicos imprescindíveis que justifiquem o fato e, assim, possam sustentar a ação pedagógica nas escolas. Ao que tudo indica, felizmente, o assunto entrou na agenda de debates da área e vem ganhando corpo.
