É possível descolonizar o campo da atividade física e da saúde? | Artigo Internacional

Precisamos descolonizar o campo da atividade física e da saúde. Precisamos de negros, indígenas, latinos, africanos e outras pessoas do Sul Global para mover a agenda de pesquisa, recomendações e políticas sobre atividade física de “qualquer” saúde para uma saúde justa.

Decolonialidade: Primeiras Considerações

A decolonialidade pode muitas vezes assumir dinâmicas típicas de diferentes lugares e pessoas. Ainda assim, também apresenta particularidades que pressupõem uma localização corpo-geopolítica, como no contexto brasileiro e latino-americano, onde é crucial usar lentes de identidade social relacionadas à raça, gênero, sexualidade e outros marcadores sociais que afetam o corpo. O eixo racial é particularmente relevante no Brasil e na América Latina, pois, segundo Quijano e Ennis, tem origem e caráter colonial com consequências duradouras e estáveis ​​(ou seja, o modelo de poder que é globalmente hegemônico hoje pressupõe um elemento de colonialidade).

No Brasil, um país com uma história de >3 séculos de escravidão e o último país do Ocidente a acabar com a escravidão (apesar de muitas marcas quilombolas de resistência), o Movimento Negro tem sido um marcador epistemológico e de luta com contribuições reparadoras para a sociedade, embora continue sendo um desafio disseminar o legado de pessoas que foram historicamente marginalizadas. As contribuições de Lélia Gonzales, Abdias do Nascimento, Sueli Carneiro e Silvio Almeida, entre muitos outros, são indispensáveis ​​para pensar e agir com uma perspectiva de decolonialidade. Os processos complexos resultantes da escravidão, do monopólio da terra e do trabalho que violavam os povos nativos e de um contingente de milhões de pessoas sequestradas na África e trazidas para o Brasil são expressos contemporaneamente por meio do racismo e da precariedade de vidas no capitalismo dependente.

Muitas áreas, incluindo a saúde, estão se questionando sobre seus conhecimentos e práticas hegemônicas,  insatisfeitas com o mundo em que vivemos, como agimos e, portanto, posicionando percepções além do eurocentrismo. No entanto, deve-se notar que isso ainda é periférico no conhecimento científico porque questiona bases intocáveis. Wispelwey et al  consideram a decolonialidade bidirecional na saúde global acadêmica abordando o colonialismo de assentamento e o capitalismo racial. A questão do racismo e da epistemologia  está em jogo. Uma investigação crucial do capitalismo racial afirma que a saúde global decolonial exige um novo sistema econômico e organizacional que refute a exploração de diferenças baseadas em grupos.  Hirsch considera que se as instituições de saúde global estiverem seriamente comprometidas em trabalhar contra os legados do colonialismo e combater o racismo, elas precisarão abrir mão de parte ou de todo o seu poder.

Por fim, é fundamental destacar que o exercício da indagação também pode se dar voltando a lente para dentro, uma vez que a colonização atua em muitas frentes complexas, como o ser, o saber e o poder. Essas indagações levaram os autores à seguinte questão: é possível descolonizar o campo da atividade física e da saúde?


  • Citação: Knuth, A. G., Leite, G. S., dos Santos, S. F. d. S., & Crochemore-Silva, I. (2024). Is It Possible to Decolonize the Field of Physical Activity and Health?. Journal of Physical Activity and Health21(7), 633-635. Retrieved Jul 17, 2024.
  • Leia o artigo na versão original que se encontra disponível para download nesse LINK.

Timóteo Araújo

Profissional de Educação Física, com experiência de 25 anos na área da Atividade Física, Vida Ativa e Longevidade,

Atividade Física e Longevidade

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