Movimento é vida: Atividades físicas e esportivas para todas as pessoas | Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano do Brasil
O valor intrínseco da prática de atividades físicas e esportivas (AFEs), bem como a relação positiva entre as mesmas e a saúde, a sociabilidade, a cognição, a produtividade e a qualidade de vida como um todo, já está bem estabelecido. Ainda assim, a maioria das pessoas não está envolvida com essas práticas. Esse Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano pressupõe que as AFEs têm o potencial de enriquecer a vida e ampliar a liberdade de escolha de cada
uma e de cada um, constituindo um direito das pessoas, e não um dever. Portanto, advoga fortemente que os governos adotem políticas públicas condizentes com a importância das AFEs para o desenvolvimento humano, bem como
prescreve que o setor privado e as organizações da sociedade civil promovam iniciativas no mesmo sentido.
Denomina-se neste relatório como “atividades físicas e esportivas” o conjunto de práticas que exigem envolvimento e esforço físico, realizadas sem fins produtivos do ponto de vista econômico, sendo, portanto, mais associadas ao tempo livre e ao lazer, e às quais os praticantes conferem motivações diversas, ligadas às dimensões da saúde, aptidão física, competição, sociabilidade, diversão, risco e excitação, catarse, relaxamento, beleza corporal etc.
É fato que muitas AFEs são praticadas fora do contexto do lazer, seja por serem compulsórias, como aquelas que fazem parte do treinamento militar, seja por estarem inseridas no mundo do trabalho, como é o caso dos trabalhos braçais e do esporte profissional. Há ainda as aulas de Educação Física, obrigatórias para as crianças e jovens inseridos no sistema escolar na condição de alunos. É importante ressaltar que o esforço analítico empreendido no presente relatório não abarca essas AFEs compulsórias, com exceção da Educação Física escolar, que será objeto de uma reflexão propositiva mais adiante.
Assim, a vinculação que aqui se estabelece com o lazer justifica-se na medida em que as AFEs são práticas que tiveram sua gênese e situam-se hoje predominantemente no âmbito do lazer, e é nesse contexto que elas obtêm adesão da maioria dos praticantes. Outros termos poderiam também denominar esse entendimento. Contudo, a expressão “atividades físicas e esportivas” parece ser mais eficiente como estratégia de comunicação social, já que o binômio “atividade física-esporte” tem grande presença no linguajar cotidiano e nas mídias, bem como nos documentos de organismos internacionais, e permite, por parte de um público mais alargado de leitores, uma associação inicial ao objeto efetivamente tratado neste relatório.
Assim, as AFEs estão em sintonia com o desenvolvimento humano quando sua realização tem por base uma decisão livre e consciente, ou seja, que essa opção não esteja limitada pela falta de recursos financeiros, inviabilizada pela falta de tempo disponível, nem pela ausência, no entorno do domicílio das pessoas, de oportunidades (equipamentos, programas e serviços) oferecidos pelo poder público para essas práticas. Ressalta-se que a opção livre, antes que atribuir ao indivíduo total e isoladamente a responsabilidade pela adesão ou não às AFEs, significa que essa liberdade pode e deve ser ampliada por processos educativos e pelas condições sociais que são produzidas por toda a sociedade.
Quer dizer, a democratização das AFEs no Brasil demanda melhorias estruturais relacionadas com os fatores condicionantes antes identificados (tempo, condições materiais e financeiras e questões simbólicas)
Citação: Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional – Movimento é Vida: Atividades Físicas e Esportivas para Todas as Pessoas: 2017. – Brasília: PNUD, 2017. 392 p.: il., gráfs. color. ISBN: 978-85-88201-49-1
Timóteo Araújo
Profissional de Educação Física, com experiência de 25 anos na área da Atividade Física, Vida Ativa e Longevidade,